Minnerheitsproche • Reschionoolsproche • Línguas minoritárias • Línguas regionais

Jede Tooch - Jeden Tag - Paul Beppler - Riograndenser Hunsrückisch 2014-02-22 at 12.36.11 AM

O ESTUDO DO BILINGUISMO E DA DIGLOSSIA PARA UMA PERSPECTIVA LINGUÍSTICA EDUCATIVA
Franciele Maria Martiny (UNIOESTE)
franmartiny @ hotmail . com 1
Camila Menoncin (UNIOESTE)
kami – menoncin @ hotmail . com 2

RESUMO:
O objetivo deste artigo é mostrar um ponto de vista pluricultural em que os conceitos em torno da diglossia (sob o enfoque do bidialetalismo) e do bilinguismo (sob a abordagem plurilíngue)
sejam tomados como complexos fenômenos linguísticos que abrangem relações sociais e culturais mais amplas. A referida temática poucas vezes é abordada em sala de aula, mesmo em nível superior. Por isso, defende-se a necessidade de rever e refletir sobre ambos os conceitos e com eles trabalhar para que possa haver uma linguística educativa plurilíngue no contexto escolar.
Até porque, um dos problemas observados é em torno das línguas de imigrantes que ainda são ensinadas nas comunidades, tanto ideológica como metodologicamente, como línguas estrangeiras, sem respeitar e tratar os dados sócio-históricos referentes à origem étnica e à hibridização interna dos dialetos com a língua institucionalizada. Situação devida, em grande parte, às políticas linguísticas repressivas e homogeneizadoras ao longo da história linguística do Brasil. A fim de refletir sobre esse cenário, primeiramente, neste estudo, será feito um levantamento bibliográfico acerca dos conceitos de bilinguismo e diglossia, para após, mencionar os contextos linguísticos e sociocultuais de regiões de imigração, propondo, na sequência, dentro da sociolinguística, uma linguística educativa bilíngue que possa contribuir para que, realmente, os direitos linguísticos destes grupos minoritários sejam respeitados.

PALAVRAS-CHAVE: Bilinguismo, diglossia, pluriculturalismo, ensino.

ABSTRACT:
The purpose of this paper is to show a pluricultural point of view in what the concepts around diglossie (on the focus of bidialetalism) and bilingualism (on a plurilingual approach) are
seen as complex linguistic phenomenons that engage wider social and cultural relationships.
The referred thematic is broached few times in the classroom, even in graduation level. Because of it, it is defended the necessity of reviewing and reflecting about both concepts and work with them to make an educative plurilingual linguistic in the school context. Even why, one of the problems observed is about the immigrants languages that are still taught on the communities, as ideologically as methodologically, like foreign languages, without respecting and treating sociohistorial data witch refer to the ethnic origin and the inner hybridization of the dialects with the institutionalized language. Situation under, in great part, the reprehensive and homogenizer linguistic politics through the Brazilian linguistic history.
To reflect about this scenery, first, in this research, it is going to be made a bibliographic survey about the concepts of bilingualism and diglossie to, after that, mention the linguistic and sociocultural contexts from immigration regions, proposing, on the sequence, inside the sociolinguistic, a bilingual educative linguistic which can contribute to, actually, the linguistic rights of these minority groups be respected.

KEYWORDS: Bilingualism, Diglossie, Pluriculturalism, Teaching.

1 Aluna do Doutorado do Curso de Pós – Graduação Stricto Sensu em Letras – nível de Mestrado e Doutorado, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), bolsista da CAPES. Orientada pela Profa. Dra. Clarice Nadir von Borstel.
2 Aluna do Mestrado do Curso de Pós – Graduação Stricto Sensu em Letras – nível de Mestrado e Doutorado, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
Orientada pela Profa. Dra. Clarice Nadir von Borstel.

INTRODUÇÃO

Os estudos em torno da língua/linguagem estão – e sempre estiveram – relacionados a concepções teóricas que refletem a forma de pensar de uma determinada sociedade ou grupo, ao longo do percurso da história da pesquisa científica.
Nesse sentido, é necessário mencionar os vários conceitos que são teorizados, reformulados e reconstruídos devido à própria dinâmica e natureza da pesquisa. Até porque, dentro do meio científico, não é mais possível afirmar que um estudo está concluído, fechado e solucionado. Acredita-se, portanto, que sempre há e haverá novas maneiras de se analisar cientificamente um f
enômeno e propor novos olhares e posicionamentos.

Nos estudos linguísticos a situação não é diferente. Do estudo imanente, proposto primeiramente por Saussure, ao estudo discursivo e a diversidade linguística, mostrado sob uma abordagem sociolinguística, são várias as teorias que envolvem as pesquisas em torno da língua/linguagem e sua relação com aspectos extra linguísticos que foram desconsiderados, em muitos momentos, como aconteceu na abordagem dada por certos grupos intelectuais e gramáticos que caracterizam as variações linguísticas como não favoráveis ao ensino.

Desta forma, as línguas de imigrantes ainda são ensinadas, nas comunidades, tanto ideológica como metodologicamente como línguas estrangeiras, sem respeitar e tratar dos dados sócio-históricos, da origem étnicas e da hibridização interna dos dialetos com a língua institucionalizada, esses aspectos se evidenciaram quando os imigrantes vieram para o Brasil, formando pequenos grupos de origem étnicas de várias regiões dos países de origem, mesclando fatores linguísticos (dialetais) e sociocultuais (hábitos, costumes, vestimentas, alimentação e religião).

Portanto, neste estudo, quer-se mostrar um ponto de vista pluricultural em que os conceitos trabalhados em torno da diglossia (sob o enfoque do bidialetalismo) e do bilinguismo (sob a abordagem plurilíngue) sejam tomados como complexos fenômenos linguísticos que abrangem relações sociais e culturais mais amplas. A temática aparece timidamente em estudos acadêmicos e, raras vezes, é abordada em sala de aula, mesmo em nível superior. Por isso, a necessidade de rever e refletir sobre ambos os conceitos e com eles trabalhar no processo de uma linguística educativa plurilíngue no contexto escolar.

O mito do monolinguismo e as políticas linguísticas

Embora tenha havido ações coercitivas, ao longo da história linguística do país, por parte do Estado Português e, na sequência, pelo Estado Brasileiro, para a proibição das línguas autóctones e alóctones, o Brasil ainda se destaca como um país multilíngue e pluricultural.

Sabe-se que a maior parte da história linguística do país foi marcada pelas ações coibitivas que negligenciaram o multilinguismo brasileiro em busca de um país monolíngue (BORTONI-RICARDO, 2004).

Destarte, Maher (2006) mostra que o mito do monolinguismo, historicamente, consolida-se a partir da Revolução Francesa, quando aparece o conceito de Estado-Nação. Nesse período, portanto,

[…] o lema seguido foi “unidade é igual a uniformidade”. Para se ter um Estado, uma unidade política, seria preciso garantir uniformidade linguística e cultural no interior de seu território. E, assim, a aversão à diversidade linguística vai se consolidando na história. Firma-se, pouco a pouco, a noção de que o plurilinguismo seria algo nefasto, ruim, uma condição a ser combatida: o projeto de modernidade insiste na necessidade de tornar o Estado homogêneo – uma língua, uma cultura, uma religião – para garantir a continuidade da ideia de nação constituída (MAHER, 2006, p.31).

A partir disso, constroem – se alguns dos mitos que ancoram a ideologia do monolinguismo e do monoculturalismo tidos, dessa forma, como expressões de uma civilização progredida, sendo requisitos indispensáveis para a construção dos Estados Nacionais (HAMEL, 1995). Ao mesmo tempo, propiciam políticas que buscam sustentar esse cenário.

Constatam-se os, portanto, os efeitos que as políticas linguísticas coercitivas e excludentes tiveram em várias nações, evidenciando os interesses políticos, econômicos , ideológicos e sociais contidos nelas, proporcionando a desigualdade linguística e socio cultural.

Mesmo assim, o Brasil, atualmente, como os demais países do mundo, é considerado plurilíngue. Estima-se que exista no país em torno de 170 línguas indígenas, além de cerca de outras 30 comunidades de imigrantes (alemãs, italianas, polonesas, japonesas, ucranianas, árabes, chinesas, entre outras). Além disso, há a língua brasileira de sinais, LIBRAS, utilizada por toda a comunidade surda do país e também por ouvintes que convivem e comunicam-se com surdos.

No entanto, a penas em 1988 a Constituição Brasileira reconheceu o Brasil como plurilíngue, ainda faltando políticas linguísticas de reconhecimento e de resgate/preservação para que muitas línguas não desapare çam como aconteceu com a maior parte das línguas indígenas no país.

Nesse sentido, Oliveira (2003), Savedra (2003), entre outros estudiosos desta área, mencionam a necessidade da definição de uma política linguística brasileira que abranja as situações de bilinguismo decorrentes de movimentos migratórios, bem como de situações de fronteira.

Sobre o que prevê a Constituição em torno da situação do bilinguismo e das políticas linguísticas, Savedra cita que:

a) a Constuição atual em seus artigos 215 e 216 admite que o Brasil é um país pluricultural e multilíngüe; b) no Brasil coexiste um grande número de línguas de imigrantes; c) para integração cultural e lingüística das comunidades de imigrantes no território nacional pouco foi feito e ainda persiste o desprezo por minorias lingüísticas, revelando a discriminação legal para as comunidades de língua materna não portuguesa; d) a pluralidade lingüística no Brasil delineia situações diversas de bilingüismo e multilingüismo e somente a educação indígena está contemplada com propostas curriculares de educação bilíngüe na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 (SAVEDRA, 2003, p. 40).

Todavia, faltam às línguas de imigração voz e visibilidade para serem incluídas nos diálogos sobre o ensino de línguas, ampliando a discussão em torno dos conceitos de bilinguismo, diglossia e os fenômenos de alternância de código face às diferenças encontradas ao longo da convivência do português com as línguas minoritárias.

Cavalcanti (1999) defende a inconformidade da política linguística brasileira pela falta de observação da realidade plurilíngue e multicultural do país.
Para a autora,

Isso talvez aconteça, porque, em primeiro lugar, existe um mito de monolingüismo no país (Bortoni, 1984, Cavalcanti, 1996, Bagno, 1999). Esse mito é eficaz para apagar as minorias, isto é, as nações indígenas, as comunidades imigrantes e, por extensão, as maiorias tratadas como minorias, ou seja, as comunidades falantes de variedades desprestigiadas do português.
Em segundo lugar, uma das razões para essa estranheza pode ser decorrente de o bilingüismo estar estereotipicamente relacionado às línguas de prestígio no que se convencionou denomi
nar bilingüismo de elite. Em terceiro lugar, esses contextos bilíngües de minorias são (tornados) invisíveis
(CAVALCANTI, 1999, p. 387).

Nesse sentido, há muito ainda a ser estudado e evidenciado em torno das questões linguísticas que envolvem situações de conflitos e ideológicas que extrapolam o sistema interna da língua.

Do falante ideal ao falante real: questões em torno do bilinguismo
Como já mencionado, praticamente em todos os países coexistiram – e coexistem – várias línguas. Situação mencionada por Calvet, quando o autor trata que

Há na superfície do globo entre 4.000 e 5.000 línguas diferentes e cerca de 150 países. Um cálculo simples nos mostra que haveria teoricamente cerca de 30 línguas por país. Como a realidade não é sistemática a esse ponto (alguns países têm menos línguas, outros, muitas mais), torna-se evidente que o mundo é plurilíngue em cada um de seus pontos e que as comunidades linguísticas se costeiam, se superpõem continuamente (CALVET, 2002, p.35).

Dessa forma, ao longo do tempo e da história das línguas, pode-se notar que os falantes tiveram contatos com as mais diversificadas realidades linguísticas.

Porém, foi apenas a partir do século XX que o conceito de bilinguismo se tornou cada vez mais amplo e complexo, não havendo até a atualidade uma concordância entre

[ LEIA O TEXTO ORIGINAL COMPLETO AQUI NESTE LINK –> http://www.sociodialeto.com.br/edicoes/16/10012014015013.pdf < -- FULL ORIGINAL TEXT HERE ] Considerações finais Como a diversidade nas línguas é um fenômeno sempre presente tanto no contexto brasileiro como no exterior, discussões acerca dos conceitos que norteiam as pesquisas linguísticas e o trabalho na sala de aula devem sempre ser realizadas com o intuito de entender e abarcar melhor as questões linguísticas que vão surgindo na medida em que o mundo vai mudando. Por meio dos estudos realizados neste estudo, com relação às conceituações de bilinguismo e de diglossia sob a abordagem de estudos sociolinguísticos, houve a possibilidade de perceber que os autores estão cada vez mais preocupados em também colocar em evidência aqueles falantes que não são falantes de línguas de prestígio, desconstruindo visões que acabavam por excluir certos falantes que nada tinham de inferior em relação a outros. Enfim, os conceitos e as visões que são tomadas como ponto de partida para qualquer pesquisador, nunca devem ser vistos por estes como os únicos, os melhores ou os últimos. É por vezes necessário refletir mais sobre os mesmos, relacionando-os com a realidade social e cultural da comunidade e dos sujeitos pesquisados. Na análise dos dois contextos mencionados, percebeu-se que não há respaldo nas escolas para que contextos de bilinguismo e de diglossia que envolvem línguas minoritárias sejam trabalhados, para que sejam evitados preconceitos linguísticos e os mitos em torno destas línguas, bem como sua manutenção e valorização. Constata-se, portanto, que as línguas de imigrantes vêm desaparecendo cada vez mais de geração em geração sem que os falantes mais jovens tenham noção da riqueza linguística e cultural que estão perdendo. Defende-se que são necessárias políticas que tenham como objetivo dar maior visibilidade a essas línguas passando ao letramento das crianças tanto na língua portuguesa quanto na língua de herança que aprendem em casa ao invés de utilizar a língua portuguesa em detrimento das demais. [ Veja a seção de REFERÊNCIAS do TEXTO ORIGINAL aqui neste link --> http://www.sociodialeto.com.br/edicoes/16/10012014015013.pdf <-- see the Original texts' REFERENCES Section ] Web-R e v i s t a S O C I O D I A L E T O • w w w . s o c i o d i a l e t o . c o m . b r Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e I S S N : 2 1 7 8-1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 1 • N o v e m b r o 2 0 1 3

Sprech! Chprech! orrer Xpreh! ?

P1040086Sprech! Chprech! orrer Xpreh! ?

O surgimento de uma escrita para o nosso Alemão Riograndense / Riograndenser Hunsrückisch irá ocorrer de forma natural e bem orgânica … e assim, esforços serão naturalmente selecionados e ou descartados, uma por serem úteis, outra por se traduzirem em obstáculos.

A palavra “jardim” tem uma versão bem particular e bem forte em nosso dialeto, um tanto distintamente apartada da pronúncia e, portanto, da grafia do termo correspondente no alemão padrão – e porque não comparar também com idiomas “irmãos”, como o inglês …

No português/uff Brasilioonisch: o jardim
No alemão-standard ou padrão / uff Hochdeitsch: der Garten
No inglês: the garden
No alemão riograndense/ uff Riograndenser Hunsrückisch: der Goorde (que bem que poderia ser grafado “tê códã”, conforme o português).

Aqui é bem importante que você entenda uma dinâmica básica prevalente no contexto histórico da língua alemã, onde se escreveu o dialeto oficial confeccionado por Martinho Lutero, enquando que, num sistema de diglocia, cada região continuou “falando” informalmente de seu jeito. Este elo foi quebrado no sul do Brasil pelo Estado Brasileiro que forçou em termos gerais um factual analfabetismo generalizado em sua população de língua alemã.

Como resultado, as pessoas passaram a utlizar-se da língua portuguesa para a escrita, ficando o dialeto alemão somente uma língua falada, digamos tecnicamente, ela permaneceu mas como uma língua ágrafa, figurativamente falando, órfã de uma escrita germânica correspondente.

Agora estão surgindo propostas para que esse dialeto Riograndenser Hunsrückisch ganhe uma escrita própria, uma escrita que reflita particularidades como terminologia emprestada do português, e mesmo a construção de frases (construções correntes que são simplesmente inaceitáveis no alemão-padrão) que já existiram no sudoeste da Alemanha na época do início da imigração quase dois séculos atrás, e que existe ainda hoje nos dialetos como o Pfälzisch, Hessisch, Saarländisch, Hunsrücker Platt, e outros do mesmo tronco franco (Rheinfränkisch bem como Moselfränkisch, cortado pela famosa e histórica linha linguística DAS/DAT [esta linha tem vários nomes]).

As propostas de uma escrita para o dialeto Riograndenser Hunsrückisch em particular basicamente se dividem em dois tipos de proposta – uma prima pelo isolamento da população germano-falante do sul do Brasil, a outra por uma permanência e interatividade com o mundo germanófono. Na minha opinião as propostas baseadas em uma grafia que na prática se aparta e se isola do mundo teutófono estão fadadas ao desaparecimento, em um contexto histórico elas desaparecerão como tentativas excêntricas atraentes especialmente aos olhos de formadores de opinião fortemente influenciados por ideologias proselitistas.

A grande atual revolução sem precedentes nos meios de comunicação que permite a interação como jamais na história da humanidade irá tomar conta de uma forma bastante “seamless” (um termo do inglês) desse desafio.

Gostou do assunto? Não deixe de ler este importantíssimo documento:
“Fundamentos para uma escrita do Hunsrückisch falado no Brasil” por
Cléo V. Altenhofen, Jaqueline Frey, Maria Lidiani Käfer, Mário S. Klassmann, Gerson R. Neumann, Karen Pupp Spinassé

Fundamentos para uma escrita do Hunsrückisch falado no Brasil

-Paul Beppler / Riograndenser Hunsrückisch Community Admin.

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Tante Iria Welter sprecht Riograndenser Hunsrückisch (Hunsriggisch Platt Deitsch) in Roque Gonzales, RS – Brasilien.

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Paul Beppler / Riograndenser Hunsrückisch Community Admin.
7. August 2014
Seattle, WA – USA.

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So tun mir verzähle …

BRASIL: NAÇÃO MONOLÍNGUE?

Claudia Gomes Paiva

“Na lingüística, o real é sempre individual e sempre em situação, determinado por coordenadas temporais, espaciais e sociais. Dentro deste espírito, poderia se dizer que a língua não existe, mas que só existem indivíduos que falam!”

(Jean-Claude Corbeil)

“Só há uma escolha possível para o Estado que deseje atenuar as tensões ligadas à realidade lingüística de nossa época: reduzir as desigualdades sociais na esperança de, com isso, conseguir diminuir as discriminações ocasionadas pelo uso legítimo da língua.”

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Preliminarmente…

Como a maioria dos países — 94% deles —, o Brasil é uma nação plurilíngüe. Embora, através dos tempos, tenha prevalecido o senso comum de que o país apresenta uma impressionante homogeneidade idiomática — construída em torno da língua portuguesa —, contamos hoje com cerca de 210 idiomas espalhados em nosso território (OLIVEIRA, 2003).

De fato, as mais de 180 línguas indígenas (nheengatu, guarani, tikuna, yanomami, kaingang, …) e 30 línguas de imigração (alemão, italiano, japonês, pomerano, talian e hunsrückisch, esses dois últimos, respectivamente, variantes do italiano e do alemão) emprestam à identidade brasileira um colorido multicultural, apesar das históricas e repetidas investidas contra essas minorias sob a justificativa de busca e manutenção de um Estado homogêneo e coeso.

Há que se mencionar ainda as línguas afro-brasileiras (faladas nas comunidades quilombolas), os falares fronteiriços (língua crioula falada no limite da Guiana francesa) e as línguas de sinais das comunidades surdas, além das variantes dialetais da língua portuguesa, que não se configura homogênea como querem fazer parecer as gramáticas normativas.

Posta a diversidade lingüística brasileira, infelizmente há uma imprecisão quanto ao número de falantes de cada língua, uma vez que apenas dois censos — o de 1940 e o de 1950 — “se interessaram por perguntar qual língua os brasileiros usavam no lar, e se sabiam falar português” (OLIVEIRA, 2003, p. 88). De todo modo, a ausência de tais dados não justifica a continuidade de uma postura de indiferença para com as línguas faladas no Brasil, como se não integrassem o patrimônio cultural nacional.

Mas, afinal, qual é o papel da língua portuguesa nesse contexto? Postula-se aqui a ditadura das minorias, mediante o desprezo da língua numericamente majoritária e a concessão de privilégios às línguas minoritárias? É evidente que não!

Tenhamos em mente alguns conceitos fundadores. Calvet (2007, p. 80) distingue língua oficial, que é a língua do Estado, de língua nacional, que se aplica a todas as línguas de um país. Para ele, todo cidadão tem direito à língua do Estado, sob as formas de alfabetização, de educação formal. Contudo, também tem direito à sua língua materna, o que, é claro, contempla todas as minorias.

Philippe Barbaud (2001), ao discutir minuciosamente o trocadilho. que dá nome a um de seus artigos — o binômio “língua do Estado” e “estado da língua” —,vê, no primeiro, uma fórmula descritiva detentora do poder de realizar a generalização da maioria dos usos governados pela norma lingüística e, no segundo, os desempenhos de cada falante. Assim, cabe: 1) ao Estado, como depositário principal da língua oficial, não usurpar o poder que tal papel lhe confere em sociedade; e 2) ao falante, como depositário do estado da língua, o dever de se tornar acionário da língua do Estado.

No presente momento histórico, em que se celebram os vinte anos da Constituição Federal brasileira, é preciso rever, pelo menos em questões de língua, alguns postulados nela inscritos, de modo a alcançar, de verdade, os propósitos de democracia e de respeito aos direitos do cidadão brasileiro.

Essas primeiras reflexões apontam para a urgente necessidade da adoção de políticas públicas que, efetivamente, contemplem os direitos lingüísticos de cada cidadão, independentemente de qual seja sua língua materna, tendo em vista o mosaico de realidade vária que constitui o panorama lingüístico brasileiro.

I. Regulação lingüística

De acordo com Corbeil (2001), regulação lingüística é o fenômeno pelo qual os comportamentos lingüísticos de cada membro de um grupo ou de um subgrupo são moldados sob a influência de forças sociais que emanam desse mesmo grupo ou de seus subgrupos (especialmente aqueles controladores das instituições). Trata-se, pois, de uma forma particular do fenômeno global de padronização de comportamentos individuais, elemento essencial no processo de formação/continuidade cultural.

Nesse contexto, pelo menos três forças sociais concorrem para a regulação lingüística: a) a aprendizagem da língua como modelo real de comportamento lingüístico; b) a influência das comunicações institucionalizadas; e c) o aparato de descrição lingüística. Tais forças correspondem, respectivamente, ao aprendizado da língua materna, à força normatizadora dos textos oficiais e aos resultados dos estudos relacionados à língua.

Segundo Calvet (2007, p. 11), embora os mecanismos desse processo de regulação constituam práticas antigas, têm sido englobados por nomenclatura recente. Assim, temos o conceito de política lingüística, que trata da adoção de importantes decisões relativas à relação entre a língua e a sociedade, e o de planejamento lingüístico, que se refere à implementação dessas decisões. Em outras palavras, considerada não satisfatória uma situação sociolingüística inicial (que o autor chama de Si), propõe-se a situação que se deseja alcançar (S2). Desse modo, a política lingüística residirá na definição das diferenças entre Si e S2, e o planejamento lingüístico responderá pelas estratégias por meio das quais se deverá passar de Si para S2.

Para a elaboração de um modelo de política lingüística, Calvet (2007, p. 58) propõe o levantamento de alguns fatores:

1. Dados quantitativos: quantas línguas e quantos falantes para cada uma delas.
2. Dados jurídicos: status das línguas em contato, reconhecidas ou não pela Constituição, utilizadas ou não na mídia, no ensino etc.
3. Dados funcionais: línguas veiculares (e sua taxa de veicularidade), línguas transnacionais (faladas em diferentes países fronteiriços); línguas gregárias, línguas de uso religioso etc.
4. Dados diacrônicos: expansão das línguas, taxa de transmissão de uma geração a outra etc.
5. Dados simbólicos: prestígio das línguas em contato, sentimentos lingüísticos, estratégias de comunicação etc.
6. Dados conflituais: tipos de relações entre as línguas, complementaridade funcional ou concorrência etc.

Como um dos principais mecanismos de planejamento lingüístico, o ordenamento legal de um país vem emprestar legitimidade a ações nessa área, descaracterizando tentativas que não se coadunem com o projeto do Estado.

Assim é que, ao adotar uma língua como oficial por meio de lei, uma nação plurilíngüe está não apenas normatizando o assunto, mas sobretudo explicitando uma escolha política que, ao oferecer variados graus de reconhecimento das línguas, visa a contemplar os interesses dos grupos detentores do poder.

Calvet assevera ainda que “na política lingüística há também política” e que “as intervenções na língua ou nas línguas têm um caráter eminentemente social e político. Mas isso nos lembra igualmente que, se as ciências raramente estão ao abrigo de contaminações ideológicas, a política e o planejamento lingüístico não escapam à regra” (2007, p. 36; destaques do autor).

De outro ângulo, com base no relato do quanto envolve ambigüidade a conceituação de língua, dialeto e nação, especialmente ao se contemplar a retrospectiva histórica da terminologia, Haugen (2001) reitera a impossibilidade, ou melhor, a dificuldade em fazê-lo, empreitada teórica que leva a confusão e superposição. Tendo o grego como modelo, este abarcava um conjunto de normas escritas distintas, mas aparentadas, conhecidas como dialetos. Língua, então, fixa-se como hiperônimo de dialeto e, por serem ciclicamente aplicáveis, um e outro implicam duas dimensões inerentes aos vários empregos intercambiantes: estrutural, em termos de relação genética, e funcional, relativa ao uso.

O autor amplia o espectro de análise ao introduzir/correlacionar o conceito de nação, que implica a busca inegociável de uma unidade política, social e lingüística, reiterando, quanto à última, que, enquanto a fala é de vital importância em qualquer sociedade, é pela escrita que se consolidam tanto sua permanência quanto as relações de poder. Assim, o contexto social, amplo palco das lutas de poder, é que determinará a escolha de um de vários dialetos, sua imposição como língua, sua utilização como norma-padrão, satisfeita a condição de adequação às necessidades da sociedade como um todo. Especialmente importante é considerar que os critérios eleitos atenderão ao intuito de fixação do status social, uma vez que língua-padrão e nação implicam, intrínseca e irremediavelmente, poder e posição social.

Como se vê, questões de língua não se dissociam de determinantes sociopolíticas. Quando uma nação que abriga mais de um idioma em seu território se movimenta pela adoção de apenas um em caráter oficial, ela parece estabelecer as bases da sonhada unificação nacional, situação defendida com fervor e que se justifica pela garantia de não esfacelamento, de manutenção do status quo. Contudo, é preciso lembrar que tal postura deixa os falantes dos demais idiomas em situação de desabrigo e, pior, de estigmatização.

II. Histórico do monolingüismo(?)[1] brasileiro

Mediante rápido cotejo de fatos históricos e de legislação específica relacionados às línguas faladas no Brasil desde seu descobrimento, serão aqui pontuadas as ações referentes ao projeto de estabelecimento de uma apenas almejada realidade monolíngüe.

Ao considerarmos a questão do idioma, precisamos lembrar que, quando os portugueses aqui chegaram em 1500, encontraram os habitantes nativos que, certamente, não falavam a língua portuguesa. O colonizador, com tudo o que essa postura traz a reboque, a fim de provar seu poder, buscou imprimir sua identidade sobre a colônia não apenas pelo mérito da força da conquista, mas também pelo subjugar da(s) cultura(s) local(is) por meio da imposição de seu idioma como marca do conquistador. (Talvez aí resida o nascedouro da falácia acerca da homogeneidade lingüística brasileira, abrandada na idéia de que o Brasil constitui “uma unidade na diversidade”).

Contudo, a língua portuguesa não se tornou, de pronto, a língua mais falada no Brasil. Na verdade, primeiramente firmou-se a hegemonia da “língua geral”, uma língua de contato que se estabeleceu entre os falares indígenas e o português — utilizada não apenas pelos índios, mas também pelos portugueses e escravos — e que prevaleceu até o século XVIII, quando se tornaram obrigatórios o uso e o ensino da língua do colonizador.

O português, firmado especialmente nos documentos oficiais, não encontrava espaço ante a hegemonia da língua geral, falada por todas as camadas sociais (TROUCHE, s/d). Por essa razão, em 3 de maio de 1757, o Marquês de Pombal, por meio do Diretório dos Índios — primeiramente direcionado ao Pará e ao Maranhão, e estendido ao resto do Brasil em 17 de agosto de 1758 —,“instituiu o ensino público, tornou violentamente obrigatório o ensino elementar da língua portuguesa, destruindo línguas e culturas indígenas” (CUNHA, 1985, p. 80).

É importante registrar que o Diretório não cuidava apenas das questões do idioma e, de fato, comportava motivações de ordem política e econômica. Por um lado, a rivalidade da Metrópole para com os jesuítas, que catequizavam os índios na língua geral e sobre eles tinham grande ascendência; por outro, o projeto de reorganizar as bases produtivas da Colônia e de estimular o comércio, para o qual era necessária a cooperação dos índios (que se achavam sob o controle jesuítico aprendendo o “grego da terra”, como registra Cunha, (1985, p. 75). Tanto o quadro era esse que os jesuítas, integrantes da Companhia de Jesus, foram expulsos do Brasil em 1759.

No entanto, não há que nos iludirmos com uma substituição pronta e rápida da língua geral pela língua portuguesa. Na prática, a teoria era outra, uma vez que a língua geral persistia mesmo com a prescrição substitutiva, afinal, é preciso lembrar, as escolas eram praticamente inexistentes (os jesuítas ensinavam os índios reunidos em suas missões) (LESSA, 2002).

No fim do século XIX e início do XX, com o romancista José de Alencar, chega ao ápice a discussão em torno da adoção da “língua brasileira”, tendo em vista o caráter distintivo resultante das várias etnias embasadoras da história da nação brasileira. Viviam-se os dias do Romantismo, quando vigorosamente se explorou a relação entre afirmação da nacionalidade e idioma próprio.

De modo semelhante, no século XX, agora sob os ares do Modernismo, “reacende-se a polêmica em torno da ‘língua brasileira’”, na qual se destaca a intenção do autor Mário de Andrade de produzir uma “gramatiquinha da língua brasileira” (BAGNO, 2002, p. 187).

Mas foi na Era Vargas que a política relativa ao idioma alcançou patamar inaceitável. A nacionalização do ensino patrocinada pelo Governo Federal chegou a criar a figura do “crime idiomático”, a fim de punir as populações imigrantes que insistissem em utilizar seus idiomas maternos em solo brasileiro. De acordo com Oliveira (2001, p. 88):

Durante o Estado Novo, mas sobretudo entre 1941 e 1945, o governo ocupou as escolas comunitárias e as desapropriou, fechou gráficas de jornais em alemão e italiano, perseguiu, prendeu e torturou pessoas simplesmente por falarem suas línguas maternas em público ou mesmo privadamente, dentro de suas casas, instaurando uma atmosfera de terror e vergonha (…)

(…)

O governo de Santa Catarina montou campos de trabalho forçado, sobretudo para descendentes de alemães que insistissem em falar sua língua; a Policia Militar, não só neste estado, prendeu e torturou, obrigou as pessoas a deixar suas casas em determinadas “zonas de segurança nacional”. Mais grave que tudo isso: a escola da “nacionalização” estimulou as crianças a denunciar os pais que falassem alemão ou italiano em casa, criando seqüelas psicológicas insuperáveis para esses cidadãos que, em sua grande maioria, eram e se consideravam brasileiros, embora falando alemão.

Como tratar assim cidadãos cujas etnias desempenharam papel importantíssimo na própria constituição histórica do povo brasileiro? Como tachar cidadãos brasileiros de criminosos com base, única e exclusiva- mente, no idioma empregado até mesmo na intimidade do lar?

Não que o assunto da nacionalização dos imigrantes já não tivesse sido considerado, mas nunca com tamanha truculência. Sabe-se que, desde o início da chegada dos imigrantes, pensava-se em projetos para uma educação em que a língua portuguesa tivesse lugar privilegiado, especialmente nas localidades com níveis mais intensos de imigração (RIBEIRO, 1889; BILAC, 1916 apud BOLOGNINI & PAYER, 2005).

Interessante também é o silenciamento que recobre o assunto, uma vez que muito pouco, ou mesmo nada, se fala acerca daquela ação governamental tão bem inserida na política ditatorial getulista.

Em 1943, a Academia Brasileira de Letras (ABL) editou, com valor de lei, o Formulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que trazia as regras ortográficas vigentes, bem como instruções para a organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Lembremos que o Formulário teve como base o Vocabulário Ortográfico da Academia de Ciências de Lisboa, de 1940, e foi alterado pela Lei no 5.765, de 1971.

Em 1959, um decreto traz à luz a Norma Gramatical Brasileira (NGB), que tinha como principal objetivo dar uma feição uniforme à diversificada terminologia empregada nas muitas gramáticas editadas à época.

Quanto ao ordenamento legal brasileiro estrito, em 1973, o Código de Processo Civil prescreve explicitamente que “em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo” (art. 156 da Lei no 5.869, deli de janeiro de 1973). E,em 1998,é editada a Lei Complementar n° 95, que contém instruções acerca da elaboração, redação, alteração e consolidação das leis.

Por sua vez, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) foi editado em 1981, e, de acordo com a ABL, contém a “forma oficial de escrever as palavras conforme o Formulário Ortográfico”. Contendo cerca de 350 mil verbetes, sua quarta edição saiu em 2004.

Em 1988, o Brasil assiste ao nascimento de sua oitava Carta Magna, que, pela primeira vez, qualifica o idioma oficial do País, como consta do seu art. 13, caput “A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil”. Também pela primeira vez, é reconhecido o direito, apenas para as comunidades indígenas, à ministração no ensino fundamental regular em suas línguas maternas, como segue:

Art. 210, §2°. O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.

(…)

Art. 231, caput. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

É de suma importância registrar que, em 2002, o município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, por meio da Lei Municipal n° 145, co-oficializou as línguas nheengatu, tukano, baniwa e português, tendo em vista a franca utilização pelos habitantes do lugar. A título de ilustração, veja-se o exemplo de propaganda política de um candidato local nas eleições de 1998 redigida em nheengatu (OLIVEIRA, 2001, p. 86).

Em 1998, o Ministério da Educação (MEC) adota os Parâmetros e Referenciais Curriculares Nacionais (PCN), cuja premissa norteadora de descrever conteúdos para os ensinos fundamental e médio foi além da construção de referências nacionais em educação e buscou respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas existentes nas regiões do Brasil. Embora não tenham caráter obrigatório, os PCN foram estruturados com o objetivo de propiciar aos alunos os conhecimentos tidos como indispensáveis ao exercício da cidadania.

Quanto à linguagem empregada nos documentos oficiais, em 2002, vem à luz a segunda edição, revista e atualizada — a primeira havia saído em 1981 —, do Manual de Redação da Presidência da República, do qual destaco os trechos que seguem:

A transparência do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que um texto legal não seja entendido pelos cidadãos.

(…) Elas [as comunicações oficiais] devem sempre permitir uma única interpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige o uso de certo nível de linguagem.

(…) Fica claro também que as comunicações oficiais são necessariamente uniformes, pois há sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o receptor dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de expedientes dirigidos por um órgão a outro) ou o conjunto dos cidadãos ou instituições tratados de forma homogênea (o público). (p. 4)

(…) O mesmo [em referência ao uso de um padrão de linguagem] ocorre com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, eles requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de que o padrão culto é aquele em que a) se observam as regras da gramática formal, e b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias lingüísticas, permitindo, por essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os cidadãos. (p. 5, destaque no original).

(…) [Em referência a neologismos e estrangeirismos] A redação oficial não pode alhear-se dessas transformações, nem incorporá-las acriticamente. (…) De outro lado, não se concebe que, em nome de suposto purismo, a linguagem das comunicações oficiais fique imune às criações vocabulares ou a empréstimos de outras línguas. (p. 65)

Do Manual, cite-se também o Anexo 1 do Decreto no 4.176, de 2002, que relaciona as “Questões que devem ser analisadas na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo”, especialmente a décima pergunta e uma de suas subdivisões:

10. O ato normativo corresponde às expectativas dos cidadãos e é inteligível para todos?

(…)

10.5. Podem os destinatários da norma entender o vocabulário utilizado, a organização e a extensão das frases e das disposições, a sistemática, a lógica e a abstração? (p. 91)

Aparentemente desconexo com o cerne deste artigo, mas compreensível em relação ao verdadeiro alcance dessas prescrições e preocupações legais, registro o seguinte questionamento: Será que a simples prevalência do discurso de unidade em torno da língua portuguesa faz com que o conjunto de cidadãos brasileiros realmente tenha acesso à Constituição Federal e à legislação infraconstitucional, e efetivamente compreenda o que elas registram? O fato de o registro dar-se de modo exclusivo em língua portuguesa automaticamente abre as portas para a compreensão?

III. Reconhecimento do plurilingüismo brasileiro

Após a longa tradição do ideal de unidade lingüística — postura que apenas camuflou a realidade (OLIVEIRA in CALVET, 2007) —, o Brasil vem dando importantes passos no reconhecimento da sua verdadeira condição lingüística, que é plurilíngüe.

Do ponto de vista acadêmico, importa registrar a elaboração da Enciclopédia das Línguas no Brasil (ELB), projeto em andamento (dados parciais já podem ser acessados via internet — http://www.labeurb.unicamp.br/elb/) e que é coordenado pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de Campinas (Unicamp).
Voltemo-nos para o ordenamento legal em nível federal.

A Constituição Federal, editada em 1988, foi a primeira Carta Magna brasileira a reconhecer os direitos lingüísticos dos indígenas. Contudo, na medida em que explicitamente nomeou tal parcela da população, de modo inevitável excluiu os falantes das demais línguas existentes no território nacional, como as línguas dos imigrantes, as línguas crioulas e as línguas de sinais de comunidades surdas.
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e, em 1999, os Referenciais Curriculares Indígenas (RCN/Indígenas) inscreveram a garantia do ensino bilíngüe para as comunidades indígenas, a autogestão indígena nas escolas específicas e o desenvolvimento de currículos e programas correspondentes às suas culturas.

No ano de 2006, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, em parceria com o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística (IPOL) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), realizou o Seminário Legislativo sobre a Criação do Livro de Registro de Línguas.

O evento discutiu a importância do registro dos idiomas falados no Brasil como patrimônio cultural imaterial, bem como a premência de políticas públicas direcionadas ao reconhecimento da diversidade lingüística brasileira, que se traduz, segundo o IPOL, em mais de dois milhões de pessoas que têm outra língua materna que não a portuguesa. Nas palavras de Pedro Garcez (2006), participante do Seminário: “Vejo o registro das línguas minoritárias brasileiras como primeiro passo na direção de tirar da clandestinidade simbólica esse patrimônio imaterial brasileiro, as diversas línguas que são formas de vida em muitas comunidades deste país”.

Ante a necessidade de estratégias para o alcance de tais objetivos, do Seminário resultou a criação do Grupo de Trabalho (GT) da Diversidade Lingüística.
Em dezembro de 2007, os resultados desse GT — que reúne várias instituições — foram apresentados na Audiência Pública sobre Diversidade Lingüística, realizada na Câmara Federal pelas mesmas entidades promotoras do Seminário.

O relatório do GT culminou na sugestão de duas principais ações: 1) a realização de um Inventário Nacional da Diversidade Lingüística[2], documento que permitirá o mapeamento das mais de duzentas línguas faladas em território brasileiro, a fim de que se ofereça suporte à criação de políticas públicas voltadas para a preservação de cada uma delas e para o respeito aos direitos dos falantes; 2) a elaboração de emenda à Constituição Federal que efetivamente reconheça o plurilingüismo brasileiro, mediante a inclusão de todas as línguas faladas no território nacional.

Para dar início ao Inventário — que deverá passar a existir oficialmente por meio de decreto presidencial —, a estratégia é realizar projetos- piloto em seis comunidades, sendo duas de línguas indígenas, uma de imigrantes, uma de afro-brasileiros, uma de língua crioula e uma de língua de sinais. Por outro lado, importante entidade que integra o GT, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) declarou que, no Censo de 2010, serão incluídas categorias que permitam o recolhimento de dados acerca das línguas e variações lingüísticas existentes no país.

Por fim, podemos encaixar o movimento brasileiro em torno de sua diversidade lingüística em um espectro ampliado, como parte de um projeto em nível internacional, se considerarmos algumas ações que merecem destaque, uma vez que o Brasil é delas signatário. Trata-se, primeiro, da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), de 2001, em que se reconhece a diversidade como patrimônio comum da humanidade, garantidor da interação harmoniosa entre as pessoas e culturas, bem como do desenvolvimento em sentido amplo.

A segunda ação refere-se à Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, também da Unesco, de 2003, que explicitamente reconhece a tradição e a expressão oral, aí incluído o idioma, como veículos desse patrimônio.

Por fim, ainda em tramitação na Organização das Nações Unidas (ONU), mesmo tendo sido proclamada em 1996 — portanto, antes das duas Declarações citadas —, faz-se mister registrar a existência da Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos (OLIVEIRA, 2003), que reconhece as perspectivas política, cultural e econômica para o respeito e o desenvolvimento de todas as línguas, que, por sua vez, não devem responder a julgamentos ou a classificações arbitrárias.

Concluindo…

Como bem apontou Celso Cunha, “cumpre-nos, pois, estudar a realidade presente, não só por ela mesma, nem apenas para dela partirmos em busca de uma reconstrução do passado, mas principalmente, para com ela orientarmos, planejarmos o nosso futuro” (1985, p. 87).

A história de um país não é construída apenas por fatos. A linguagem desempenha papel crucial em todo o processo, ainda que a ela venham-se direcionando, primordialmente, posturas prescritivistas e inculcadoras de preconceitos, que, por sua vez, não resistem a argumentos científicos (BAGNO, 2001b).

O português não é língua materna para, estima-se pelo menos, dois milhões de brasileiros. Isso não pode ser simplesmente desconsiderado, pois tal postura tem-se traduzido em resultados negativos no que se refere às políticas públicas de educação.

De fato, a diversidade lingüística deve ser celebrada e não combatida como se representasse um mal. Nem mesmo deve-se apelar para a indiferença, pois, no dizer de Orlandi (2007, p. 8), “que unidade se constrói ignorando a diversidade que constitui um mesmo campo lingüístico?”

“A padronização dos comportamentos lingüísticos”, conclui Corbeil (2001), “é parte integrante da organização social, independentemente da descrição ou da interpretação que podem fazer dela os observadores, antropólogos, sociólogos ou lingüistas”. Embora verdadeira a afirmação, não podemos compactuar com a postura padronizadora se ela é empregada, ainda que não explicitamente, como justificativa para a exclusão, para a discriminação.

Na verdade, sob o pretexto do cumprimento da vontade de todos, o discurso avaliativo-prescritivo das classes dominantes abriga propósitos de unificação a qualquer custo, o que abre espaço para os puristas, cuja postura não está isenta de críticas, tendo em vista que, como modelo unitário e permanente, fortemente seletivo, ignora o conhecimento científico e recusa a realidade do uso, pois encontra-se ancorado no apagamento das implicações sociais dos julgamentos.

Por outro lado, rechaçar qualquer forma de normatização pode ser interpretado como a adoção do “vale-tudo” por parte dos lingüistas, o que não corresponde à verdade, pois os pesquisadores envolvidos com a linguagem postulam o acompanhamento da construção da norma mediante análise científica e compreensão da atividade normativa como uma prática social e não como uma atitude com um fim em si mesma (REY, 2001, p. 135; BAGNO, 2003, p. 156). Além disso, considerando que a política se traduz na “arte do possível”, ao nos voltarmos para a política lingüística, tal afirmação apenas evidencia o fundamental papel a ser desempenhado pelo lingüista (CALVET, 2007, p. 86).

Por isso, muito mais do que visar a meros objetivos de integração, oferecer como que uma “autonomia lingüística” aos falantes brasileiros de línguas não-oficiais terá resultados vigorosos na manutenção e preservação da cultura de cada uma delas, aliás, como bem prescreveu a LDB em relação aos indígenas:

Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisas, para oferta de educação escolar bilíngüe e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:

I— proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;
II — garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias.

Para Calvet (2007, p. 69), são dois os tipos de gestão das situações lingüísticas. A que procede das práticas sociais (in vivo, dos falantes) e a resultante da intervenção sobre essas práticas (in vitro, do poder). Pensando no Brasil, o que se deve estabelecer é a valorização das práticas sociais, que evidentemente englobam as práticas lingüísticas, e não apenas tê-las como alvo de legislação segregadora.

No dizer de Barbaud (2001, p. 277), como caminhos para a reconciliação entre a língua do Estado e o estado da língua (definições tratadas na parte introdutória deste artigo), apontam-se: a atenuação das tensões experimentadas pelo falante-cidadão; a avaliação do real alcance tanto do poder de alienação quanto do de libertação da língua do Estado, considerado o estado da língua; e, por último, o enfrentamento da realidade lingüística do mundo moderno.

Em suma, quando a sociedade brasileira pára com o objetivo de celebrar as duas décadas de vigência de sua Carta Magna, analisando-lhe o impacto sobre o destino dos cidadãos, no que respeita ao tema deste artigo, importa reconhecer o caráter plurilíngüe da nação e mudar o texto da Constituição Federal, incluindo todas as comunidades que não têm o português como língua materna.

É preciso provocar a adoção de políticas públicas, nas três esferas governamentais, que contemplem a realidade lingüística brasileira, sob pena de, em caso contrário, continuar-se excluindo exatamente aqueles a quem a “Constituição Cidadã” propôs-se amparar: “Dos filhos deste solo, és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!”

Referências

BAGNO, M. (Org.) Norma lingüística. São Paulo: Loyola, 2001a.
________. Preconceito lingüístico. São Paulo: Loyola, 2001b.
________. Língua, história & sociedade. In: BAGNO, M. (Org.) Lingüística da norma. São Paulo: Loyola, 2002, p. 179-199.
________. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola Ed., 2003.
BARBAUD, P. A língua do Estado: o estado da língua. In: BAGNO, M. (Org.) Norma lingüística. São Paulo: Loyola, 2001, p. 255-278.
BOLOGNINI, Carmen Zink; PAYER, Maria Onice. Línguas de imigrantes. Cienc. Cult., São Paulo, v. 57, n. 2, 2005. Disponível em: . Acesso em: 29 mar. 2008.
CALVET, L-J. As políticas lingüísticas. São Paulo: Parábola Ed.; IPOL, 2007.
CORBEIL, J. Elementos de uma teoria da regulação lingüística. In: BAGNO, M. (Org.) Norma lingüística. São Paulo: Loyola, 2001, p. 175-201.
CUNHA, C. A questão da norma culta brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985.
GARCEZ, P. M. O registro das línguas brasileiras como formas de vida e patrimônio cultural do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 31 mar. 2008.
HAUGEN, E. Dialeto, língua, nação. In: BAGNO, M. (Org.) Norma lingüística. São Paulo: Loyola, 2001, p. 97-114.
LESSA, A. L. S. A situação da língua geral na Amazônia no período pombalino: uma análise preliminar. Disponível em: Acesso em 10 abr. 2008.
OLIVEIRA, G. M. (Org.). Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos: novas perspectivas em política lingüística. Campinas: Mercado de Letras; ALB; Florianópolis: IPOL, 2003.
________. Brasileiro fala português: monolingüismo e preconceito lingüístico. In: SILVA, F. L.; MOURA, H. M. M. (Orgs.). O direito à fala: a questão do preconceito lingüístico. Florianópolis: Insular, 2001, p. 83-92.
ORLANDI, E. P. (Org.). Política lingüística no Brasil. Campinas: Pontes, 2007.
REY, A. Usos, julgamentos e prescrições lingüísticas. In: BAGNO, M. (Org.). Norma lingüística. São Paulo: Loyola, 2001, p. 115-144.
TROUCHE, L. M. G. O Marquês de Pombal e a implantação da língua portuguesa no Brasil: reflexões sobre a proposta do Diretório de 1757. Disponível em: . Acesso em: 4 abr.2008.

Sites pesquisados:

htrp://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9394.htm. Acesso em: 30 mar. 2008.
http://wwwacademia.org.br. Acesso em: 4 abr. 2008.
http://www.ipol.org.br. Acesso em: 7 abr. 2008.
http://www.mec.gov.br. Acesso em: 4 abr. 2008.
http://www.labeurb.unicamp.br/elb/. Acesso em: 1 abr. 2008.
http://www.unesco.org.br. Acesso em 12 abr. 2008.

Notas:

[1] A interrogação se justifica porque o Brasil nunca foi monolíngüe de fato.
[2] O próximo passo nesse processo será a criação do Livro de Registro das Línguas.

FONTE DESTE TRABALHO:
http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao11/artigos_13.php

-Paul Beppler / Riograndenser Hunsrückisch Community Admin.
30. Juli, 2014
Seattle, WA – USA.

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SCHMIER

No sul do Brasil muita gente sabe o que é a tal da chimía (este termo ganha várias grafias em nossa língua nacional: chimier, schmier, acho que até já vi ximíer escrito em algum lugar). Mas lembre-se que no alemão substantivos (coisas, pessoas, lugares) são escritos sempre em maiúscula, também no dialeto; que por causa da estrutura da nossa língua, isso facilita o olho na ora da leitura para uma mais rápida compreensão do sentido de uma frase.

Kässchmier Schmier 2014-04-04 at 9.11.31 PM.jpg

Note acima que separei termos compostos com hífen – isto é uma ótima tática pra ajudar pessoas fluentes no dialeto mas que jamais viram em sua vida uma palavra escrita em sua língua materna. Se for o caso, a pessoa pode começar escrevendo tudo separado e depois ir formando mais e mais os compostos a medida que for se acostumando a escrever no dialeto. Caso você escrever para uma ‘audiência’ (pessoa, comunidade, etc.) que provavelmente terá que fazer um baita esforço pra ler em alemão, pode usar o hífen pra separar compostos, especialmente aqueles mais longos e que contém termos que você sabe que as pessoas ainda não conhecem.

Além do termo schmier básico, depois tem seus composto mais específicos, ou seja schimier do quê? Aí você pode organizar isso por categorias como

1) Schimiers doces (süsse Schmiere) – como schmier de moranguinho ou de laranja (em dialeto: Eardbearcher-Schmier, Ransche-Schmier);
2) Schmiers salgadas (salziche Schmiere), como Ooierschmier ou schmier de óvos;
3) Schmiers feitas de derivados do leite (von Millich-Produkte heargestellte Schmiere), como Käs-Schmier.

Mas existem ainda outras categorias e subcategorias, como por exemplo schimier de banana madura (cru) que é descascada e com o auxílio de uma faca é cortada em rodelas e passada ao mesmo tempo sobre a fatia de pão, o que pode levar um pouco de açúcar e/ou canela em pó ou não).

Saiba que ‘schmieren’ o verbo – que nós falamos mais é ‘schmere’ na prática – um derivado do substantivo Schmier muitas vezes é associado a graxas e oficinas mecânicas … e portanto o termo dialetal de nossa região pode parecer ‘diferente’ para pessoas que tendem a achar dialetos curiosidades e motivo de riso.

Ademais, Schmier também é um sobrenome.

-Paul Beppler
Riograndenser Hunsrückisch Community Admin.
28. Juli, 2014
Seattle, WA – USA.

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Manuel Neuer üwer Schwul sein …

Manuel Neuer üwer Schwul sein

Manuel Neuer üwer Schwul sein

TOR, GOOOOOL PRA ALEMANHA!!!

Der deitscher National-Torwoart Manuel Neuer hot sich für der offne Umgang mit Homosexualität im Fussbooll ausgesproch:

“Ja, wer schwul ist, sollte sich outen. Da fällt doch eine Last ab.” Dozu hätt’er während ein Entrevista mit BUNTE schon in 2011 gesooht, ei das “Auch die Fans werden sich schnell daran gewöhnen. Wichtig ist die Leistung”.

O goleiro da seleção nacional alemã sobre a importância do indivíduo ser honesto consigo mesmo, em relação à sua real identidade:

“Quem é gay deveria se assumir. Que isso tira uma grande carga.” A isso ele acrescentou durante entrevista com BUNTE já em 2011: “Além do mais, torcedores/as irão se acostumar logo, logo. O importante mesmo é o desempenho no campo.”

-Paul Beppler / Riograndenser Hunsrückisch Community Admin.
28. Juli, 2014
Seattle, WA – USA.

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O plurilingüismo no Brasil
die brasilioonische Sprochvielfalt

Der Artikel “Plurilingüismo no Brasil” von Gilvan Müller de Oliveira (Brasília, Juni 2008) ist dohie nei-publiziert und wieder üwich der Internet in Veröffentlichung gebrung, so das mehre Leit wo sich möchlischst üwich Mehrsprächichkeit in Brasilie intressiere, es dann leichter finne und lese, und sich dann ooch driwer üwerlehn, könne. Was mer dohie am mache ist, ist was in Hoch-Technoloschie en ‘Spiechel baue’ hesst (en Begriff/Konzept wo aus der Englisch-Sproch stammt, wo es als “mirroring” gekennt ist). Hiedie Web-Seit ist dann nuar en zwooite Platz in der Internetz, von wo der dort uwe erwähnte Artikel, weiter nochmo ‘reflektiert’ ist … und nämlich, obwohl der Beitrooch schon für das Publikum zur verfüchung üwer der Internetz gestellt woard, es woor doch getun dorrich en vielzuviel restriktives sort von Dokument, weil es bis jetzt norre im PDF-Format in der Internetz für se finne ist (en Oort von Datei wo besser dient für gedruckte Versione hearstelle).

O artigo “Plurilingüismo no Brasil” de Gilvan Müller de Oliveira (Brasília, junho de 2008) está sendo re-postado e mais uma vez disponibilizado para o grande público na internet, para que um número maior de pessoas que talvez se intessem pelo assunto da pluralidade linguística do país possam mais facilmente encontrar e ler este texto, e refletir sobre o assunto. O que está sendo feito aqui é o que em High Technology se chama de ‘espelhamento’ (um conceito/termo que surgiu no mundo anglófono, onde se ele chama “mirroring”). Esta página neste site, portanto, somente é um ponto na internet onde o acima citado artigo passa a ser ‘refletido’ … quer dizer, muito embora já disponibilizado na internet, isto foi feito em um formato de arquivo deveras restritivo, sim, pois até este momento ele somente se encontra disponível no formato PDF (ideal para produzir versões em papel, para impressão).

Plurilingüismo no Brasil
Representação da UNESCO no Brasil
Gilvan Müller de Oliveira
Brasília, julho 2008

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Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística (IPOL) / 2008

BR/2008/PI/H/30
Representação da UNESCO no Brasil
Representante
Vincent Defourny
Coordenadora de Cultura
Jurema Machado
Coordenador Editorial
Célio da Cunha

Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de suas fronteiras ou limites.

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Plurilingüismo no Brasil
Gilvan Müller de Oliveira
1

A concepção que se tem do país é a de que aqui se fala uma única língua, a língua portuguesa. Ser brasileiro e falar o português (do Brasil) são, nessa concepção, sinônimos. Trata-se de preconceito, de desconhecimento da realidade ou antes de um projeto político – intencional, portanto – de construir um país monolíngüe?

Em algum nível todos esses fatos andam juntos. Não é por casualidade que se conhecem algumas coisas e se desconhecem outras: conhecimento e desconhecimento são produzidos ativamente, a partir de ópticas ideológicas determinadas, construídas historicamente. No nosso caso, produziu-se o “conhecimento” de que no Brasil se fala o português, e o “‘desconhecimento”’ de que muitas outras línguas foram e são igualmente faladas. O fato de que as pessoas aceitem, sem discutir, como se fosse um ‘fato natural’, que o ‘português é a língua do Brasil’ foi e é fundamental, para obter consenso das maiorias para as políticas de repressão às outras línguas, hoje minoritárias.

Para compreendermos a questão é preciso trazer alguns dados: no Brasil de hoje são falados por volta de 210 idiomas. As nações indígenas do país falam cerca de 170 línguas (chamadas de autóctones), as comunidades de descendentes de imigrantes outras 30 línguas (chamadas de línguas alóctones), e as comunidades surdas do Brasil ainda duas línguas, a Língua Brasileira de Sinais – Libras – e a língua de sinais Urubu-Kaapór. Somos, portanto, um país de muitas línguas – plurilíngüe – como a maioria dos países do mundo. Em 94% dos países do mundo são faladas mais de uma língua.

Se olharmos para nosso passado, veremos que fomos, durante a maior parte da nossa história, ainda muito mais do que hoje, um território plurilíngüe: quando aqui aportaram os portugueses, há 500 anos, falavam-se no país, segundo estimativas de Rodrigues (1993: 23), cerca de 1.078 línguas indígenas, situação de plurilingüismo semelhante a à que ocorre hoje nas Filipinas (com 160 línguas), no México (com 241), na Índia (com 391) ou, ainda, na Indonésia (com 663 línguas).

O Estado Português e, depois da independência, o Estado Brasileiro, tiveram por política, durante quase toda a história, impor o português como a única língua legítima, considerando-a “companheira do Império” (Fernão de Oliveira, na primeira gramática da língua portuguesa, em 15362). A política lingüística do estado sempre foi a de

[[Notas:]]
1 Lingüista da Universidade Federal de Santa Catarina (NEP/UFSC) e pesquisador-associado do Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística (IPOL). E-mail: .
2 Outros gramáticos da época afirmaram essa mesma relação entre a língua e a dominação, como Antonio de Nebrija, o primeiro gramático da língua castalhana: “a língua sempre acompanhou a dominação e a seguiu, de tal modo que juntas começaram, juntas cresceram, juntas floresceram e, afinal, sua queda foi comum” (NEBRIJA, 1492, Introdução, citado por GNERRE, 1987, p. 10).

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reduzir o número de línguas, num processo de glotocídio (assassinato de línguas) através de deslocamento lingüístico, isto é, de sua substituição pela língua portuguesa3. A história lingüística do Brasil poderia ser contada pela seqüência de políticas lingüísticas homogeinizadoras e repressivas e pelos resultados que alcançaram: somente na primeira metade deste século, segundo Darcy Ribeiro, 67 línguas indígenas desapareceram no Brasil –- mais de uma por ano, portanto (RODRIGUES, 1993, p. 23). Das 1.078 línguas faladas no ano de 1500 ficamos com cerca de 170 no ano 2000, (somente 15% do total) e várias destas 170 encontram-se já moribundas, faladas por populações diminutas e com poucas chances de resistir ao avanço da língua dominante.

Essa ação do estado pode ser observada, por exemplo, no Diretório dos Indios4, de 1758, documento com o qual o Marquês de Pombal pretendeu legislar sobre a vida dos índios –- primeiro só da Amazônia, depois de todo o Brasil –- no período subseqüente à expulsão dos Jesuítas. A intenção expressa, de “‘civilizar”’ os índios, realiza-se através da imposição do português, língua do Príncipe, como mostra este fragmento com a grafia da época:

Sempre foi maxima inalteravelmente praticada em todas as Naçoens, que consquistaraõ novos Dominios, introduzir logo nos Póvos conquistados o seu proprio idiôma, por ser indisputavel, que este he hum dos meios mais efficazes para desterrar dos Póvos rusticos a barbaridade dos seus antigos costumes; e ter mostrado a experiencia, que ao mesmo passo, que se intoduz nelles o uso da Lingua do Principe, que os conquistou, se lhes radîca tambem o affecto, a veneraçaõ, e a obediencia ao mesmo Principe. (…) será hum dos principáes cuidados dos Directores, estabelecer nas suas respectivas Povoaçoens o uso da Lingua Portugueza, naõ consentindo de modo algum, que os Meninos, e Meninas, que pertencerem ás Escólas, e todos aquelles Indios, que forem capazes de instrucçaõ nesta materia, usem da Lingua propria das suas Naçoens, ou da chamada geral; mas unicamente da Portugueza, na forma, que Sua Magestade tem recõmendado em repetidas ordens, que até agora se naõ observáraõ com total ruina Espiritual, e Temporal do Estado (DIRECTORIO, p. 3-4, cap. 6, grifo meu).

Naquele momento histórico, o documento de Pombal volta-se sobretudo contra a língua geral, o tupi da costa do Brasil transformado em língua veicular de índios, brancos e negros em vastas porções do território, especialmente na Amazônia, onde também foi e é chamada de nheengatu. O documento marca o início do ocaso desta importante língua veicular, ocaso que vai se acelerar com a chacina de cerca de 40 mil pessoas falantes de nheengatu, índios e negros que pegaram em armas contra a dominação ‘branca’ na revolução denominada Cabanagem, entre 1834 e 1841(BESSA FREIRE, 1983, p. 65). O processo vai se consumar com o desaparecimento do nheengatu em grande parte da Amazônia – mas não em toda – fato causado pela chegada de 300 a 500 mil nordestinos, falantes monolíngües de português, entre 1870, quando começa o ciclo da borracha e 1918, final da Primeira Guerra Mundial.

Hoje, apesar desse processo de deslocamento lingüístico que o substituiu pelo português nas calhas da maioria dos grandes rios, o nheengatu resiste “entre a cidade de Manaus e as malocas do Alto Rio Negro, numa área aproximada de 300 mil.000 km2 (…) o nheengatu é o instrumento de comunicação usual da população que aí reside e a

[[Notas:]]
3 Ou mesmo pela eliminação pura e simples das populações falantes destas línguas.
4 Nome abreviado do “‘Directorio que se deve observar nas Povoações dos Índios do Pará, e Maranhão em quanto Sua Magestade naõ mandar o contrario”’, publicado em edição fac-similar por Almeida (1997).

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língua de comércio”(BESSA FREIRE, 1983, p. 73). Isso é demonstrado, para tomar um exemplo, nesta propaganda política de um candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) a deputado estadual na eleição de 1998:

Alto Rio Negro Miraitá Arã5
Se’ Muitá,
Mbuessara Aloysio Nogueira candidato Deputado Estadual arã.
Aé mira katu, ti mira puxi.
Aé yane’ anama.
Deputado Estadual yawé, Mbuessara Aloysio Nogueira ussu yane’ maramunhangara kirimbawa kuri. Aé ussu Alto Rio Negro miraitá nheenga kuri Assembléia Legislativa upé.
Ixé ayumana penhé, se’ anamaitá. Mbuessara Auxiliomar Silva Ugarte suí

Não devemos imaginar, entretanto, que leis como o Diretório tenham, por si só, mudado o perfil lingüístico do país, ou que tenham sido ‘obedecidas’ tranqüilamente pela população. O historiador José Honório Rodrigues chama nossa atenção para a resistência que os diversos grupos lingüísticos do país opuseram contra as políticas de homogeneização e glotocídio, numa verdadeira guerra de línguas6:

Numa sociedade dividida em castas, em raças, classes, mesmo quando é evidente o processo de unificação da língua, especialmente num continente como o Brasil, onde durante três séculos combateram várias línguas indígenas e negras contra uma branca, não havia nem paz cultural, nem paz lingüística. Havia, sim, um permanente estado de guerra. (…) O processo cultural que impôs uma língua vitoriosa sobre as outras não foi assim tão pacífico, nem tão fácil. Custou esforços inauditos, custou sangue de rebelados, custou suicídios, custou vidas (RODRIGUES, 1985, p. 42)

Não só os índios foram vítimas da política lingüística dos estados lusitano e brasileiro: também os imigrantes – chegados principalmente depois de 1850 – e seus descendentes passaram por violenta repressão lingüística e cultural. O Estado Novo (1937-1945), regime ditatorial instaurado por Getúlio Vargas, marca o ponto alto da repressão às línguas alóctones, através do processo que ficou conhecido como

[[Notas:]]
5 “Aos povos do Alto Rio Negro. Meus Irmãos: O Professor Aloysio Nogueira é candidato a deputado estadual. Ele é gente boa. Ele é nosso amigo (parente). Como deputado estadual, o Professor Aloysio Nogueira vai ser o nosso valente guerreiro. Ele vai ser a voz dos povos do Alto Rio Negro na Assembléia Legislativa. Eu vos abraço, meus parentes. Professor Auxiliomar Silva Ugarte”. (O texto e a tradução me foram gentilmente cedidos pelo próprio Aloysio Nogueira, a quem agradeço, em São Gabriel da Cachoeira (AM).
6 O conceito “‘guerra de línguas”’ nos possibilita entender que as línguas (isto é, as diversas comunidades lingüísticas) não convivem pacificamente, mas se valem das diferenças lingüísticas nas suas lutas identitárias (CALVET, 1999).

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“nacionalização do ensino” e que pretendeu selar o destino das línguas de imigração no Brasil.

Foi o caso, especialmente, do alemão e do italiano na região colonial de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Em regiões destes dois estados nas quais a estrutura minifundiária e a colonização homogênea garantiram condições adequadas para a reprodução das línguas, a repressão lingüística, através do conceito jurídico de “crime idiomático”, inventado pelo Estado Novo, atingiu sua maior dimensão.

Durante o Estado Novo, mas sobretudo entre 1941 e 1945, o governo ocupou as escolas comunitárias7 e as desapropriou, fechou gráficas de jornais em alemão e italiano, perseguiu, prendeu e torturou pessoas simplesmente por falarem suas línguas maternas em público ou mesmo privadamente, dentro de suas casas. Instaurou-se uma atmosfera de terror e vergonha que inviabilizou em grande parte a reprodução dessas línguas, que, pelo número de falantes, eram bastante mais importantes que as línguas indígenas na mesma época: 644.458 pessoas, em sua maioria absoluta cidadãos brasileiros, nascidos aqui, falavam alemão cotidianamente no lar, numa população nacional total estimada em 50 milhões de habitantes, e 458.054 falavam italiano, dados do censo do IBGE de 19408 (MORTARA, 1950). Essas línguas perderam sua forma escrita e seu lugar nas cidades, passando seus falantes a usá-las apenas oralmente e cada vez mais na zona rural, em âmbitos comunicacionais cada vez mais restritos.

O estado de Santa Catarina, na gestão do governador e depois interventor Nereu Ramos, montou campos de concentração, chamados eufemisticamente de “áreas de confinamento”, para descendentes de alemães que insistissem em falar sua língua, entre outras razões (DALL’ALBA, 1986). Um destes campos funcionou dentro do que é hoje o campus da Universidade Federal de Santa Catarina, mais especificamente a Prefeitura Universitária. A lista com os nomes dos prisioneiros confinados nesse campo foi publicada por Perazzo (1999, p. 239-44)

A partir do recrudescimento do processo, em 1942, as prisões aumentaram, passando, no município de Blumenau, por exemplo, de 282 prisões em 1941, em sua maioria por ocorrências comuns (como embriaguez ou briga em bailes), para 861 no ano seguinte, das quais 271, isto é, 31,5%, pela única razão de se ter falado uma “língua estrangeira”.

Isto significou a prisão de 1,5% de toda a população do município no decorrer daquele ano e levou ao silenciamento da população. No mesmo ano o Exército Brasileiro, mais especificamente o 32o Batalhão de Caçadores, composto sobretudo de soldados transferidos do Nordeste, deslocados para Blumenau para “ensinar aos catarinenses a serem brasileiros”, carimbou toda a correspondência para o Vale do Itajaí com a frase do ex-governador e ex-ministro das relações exteriores, Lauro Müller:

[[Notas:]]
7 A partir do ano de 1932 se iniciam uma série de medidas contra o uso da língua alemã nas escolas teuto- brasileiras. Esta se explica, de um lado, como uma resposta aos reclamos de políticos e intelectuais nacionalistas, que se filiariam, em 1937, ao governo estado-novista, e, de outro, às recomendações de políticos liberais, que enxergavam na instrução e no uso de um único idioma em todo o país, uma condição sine qua non para o exercício da cidadania (BREPOHL DE MAGALHÃES, 1998, p. 48).
8 De todos os censos brasileiros, somente os de 1940 e 1950 se interessaram por perguntar qual língua os brasileiros usavam no lar, e se sabiam falar português.

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“Quem nasce no Brasil ou é brasileiro ou é traidor” (NOGUEIRA, 1947, p. 13). A ação “nacionalizadora” do Exército, entretanto, data de muito antes:

Amparados numa rígida censura à imprensa, que previa a prisão imediata do responsável pelo jornal que publicasse qualquer restrição à campanha [de nacionalização], militares passaram a comandar os municípios das zonas coloniais, empossando novas diretorias nas escolas e nas sociedades recreativas (como na Ginástica Jahn, em Canoinhas), alterando a denominação de conhecidos centros culturais (a sociedade Músico Teatral Frohsinn, em Blumenau, tornou-se Teatro Carlos Gomes), e interferindo nos mais variados aspectos da vida cotidiana. O seu zelo era tal que, em Jaraguá do Sul, o prefeito nomeado chegou a proibir que lápides e mausoléus do cemitério local contivessem escritos em “língua estrangeira” (medida que seria depois estendida a todo o Estado), não aceitando sequer o expediente adotado por um indivíduo de nome Godofredo Guitherm Lutz, que cobrira as inscrições do jazigo da família com uma placa de bronze. E, para apoiar ações como esta, um batalhão do exército foi especialmente criado e enviado para Blumenau, onde ficou acampado na antiga Sociedade de Atiradores. O 32. BC chegou num dia de chuva, sendo recepcionado por autoridades, escoteiros e delegações das principais indústrias, enquanto dois aviões militares soltavam confetes com as cores da bandeira brasileira. Marcando sua chegada, os soldados envolveram-se num conflito com civis durante um baile no Salão Buerger, e dias depois seu comandante publicava um edital abolindo “o uso de qualquer língua estrangeira em atos públicos” (‘A Gazeta’, 24 e 25 de maio de 1939) (FALCÃO, 2000, p. 171 e 200).

A Polícia Militar9, em Santa Catarina como em outros estados, prendeu e torturou e obrigou as pessoas a deixar suas casas em determinadas “zonas de segurança nacional”. Mais grave que tudo isso: a escola da “nacionalização” estimulou as crianças a denunciar os pais que falassem alemão ou italiano em casa, criando seqüelas psicológicas insuperáveis para esses cidadãos que, em sua grande maioria, eram e se consideravam brasileiros, ainda que falando alemão.

Um dos fatos mais trágicos, entretanto, é que encontramos na nossa história muito poucas vozes que se opuseram ao esmagador processo de homogeinização, mesmo entre os intelectuais brasileiros. “Causa perplexidade”, afirmam Simon Schwartzman e outros “o fato de nunca ter havido, por parte das diversas correntes políticas de alguma significação na história brasileira, quem defendesse para o país a constituição de uma sociedade culturalmente pluralista” (SCHWARTZMAN et al., 1984, p. 72).

Para a lingüística brasileira, da forma como ela está estruturada nas nossas universidades hoje, o estudo da diversidade lingüística, isto é, do plurilingüismo, tem um lugar apenas modesto nos esforços de pesquisa. Quando se fala em diversidade lingüística muitas vezes se pensa na diversidade interna à própria língua portuguesa, o que decorre, entre outras razões, do predomínio, no país, de uma sociolingüística de cunho laboviano que poderíamos chamar de “‘sociolingüística do monolingüismo”’. Mas este interesse é crescente, e pode ajudar as diversas comunidades lingüísticas do Brasil a manterem e desenvolverem suas línguas.

[Notas:]
9 Chamada, no Rio Grande do Sul, de Brigada Militar. É interessante que Fiori, que há muitos anos pesquisa o processo de nacionalização do ensino, ao procurar a documentação da polícia (Dops) referente a Santa Catarina no período estadonovista nos arquivos de Curitiba, tenha descoberto que ela foi suprimida, e que “nada consta” sobre os anos da repressão lingüística (comunicação pessoal).

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Menor ainda foi, tradicionalmente, a preocupação da lingüística brasileira de contribuir para garantir, às populações que não falam português, seus direitos lingüísticos10, através, por exemplo, de intervenções políticas nos órgãos responsáveis ou na mídia. Nesse sentido, não temos para o Brasil um quadro muito diferente do que o que Dora Pellicer (1993, p. 36-7) afirma a respeito da lingüística mexicana em um texto intitulado “Foi então que as línguas indígenas passaram das mãos dos missionários para as mãos dos eruditos”:

No obstante, la labor de los especialistas mexicanos en el mundo académico no tuvo efecto alguno en la legitimación del uso de estos idiomas [indígenas] en el contexto de la nación independiente. Pueden argumentarse varias razones de que ello ocurriera así. Pero una determinante principal es que aparentemente no hubo, por parte de este gremio, tan interesado en descripciones, comparaciones y estudios dialectales, el proposito de lograr, mediante sus conocimientos acumulados, la reivindicación del uso de estas lenguas. Para esa recién constituida intelectualidad mexicana – cuyos miembros, poseedores de una profusa erudición , se mantenían al día de la moderna filología – los idiomas nativos constituyeron un apasionante objeto de estudio, pero nada más. En el terreno ideológico todos ellos compartieron, sin someterlo a discusión profunda, el ideal nacional de una lengua común […]11.

A História nos mostra que poderíamos ter sido um país ainda muito mais plurilíngüe, não fossem as repetidas investidas do Estado contra a diversidade cultural e lingüística. Essa mesma História nos mostra, entretanto, que não fomos apenas um país multicultural e plurilíngüe: somos um país pluricultural e multilíngüe, não só pela atual diversidade de línguas faladas no território, mas ainda pela grande diversidade interna da língua portuguesa aqui falada, obscurecida por outro preconceito: o de que o português é uma língua sem dialetos.

Finalmente, ainda, somos plurilíngües porque estamos presenciando o aparecimento de ‘novos bilingüismos’, desencadeados pelos processos de formação de blocos regionais de países, no nosso caso o Mercosul, que acompanha outras iniciativas como a União Européia e o Tlcan (Nafta). Esses processos desencadeiam novos movimentos migratórios, novos fatos demolingüísticos e novas configurações para o chamado “bilinguismo por opção”, isto é, novas orientações para o aprendizado de línguas estrangeiras. É de se esperar que ocasionem ainda novos tipos de deslocamentos lingüísticos.

Da mesma forma que as comunidades lingüísticas resistiram aos processos de homogeinização na época da Colônia, resistência continua sendo oposta, seja pelos movimentos indígenas organizados, seja por outros grupos, falantes das línguas de
10 Vide a Declaração Universal dos Direitos Lingüísticos, promulgada em julho de 1996, e publicada no Brasil pela Editora Mercado das Letras e pelo Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística.

11 […] Contudo, o trabalho dos especialistas mexicanos no mundo acadêmico não teve efeito algum na legitimação do uso destes idiomas [indígenas] no contexto da nação independente. Podem ser apontadas várias razões para que isso tenha ocorrido dessa forma. A principal, todavia, é que aparentemente não houve, por parte deste grupo, tão interessado em descrições, comparações e estudos dialetais, o propósito de apoiar, mediante seus conhecimentos acumulados, a reivindicação do uso destas línguas. Para essa intelectualidade mexicana recém-constituída – cujos membros, possuidores de uma profusa erudição, se mantinham a par da moderna filologia – os idiomas nativos constituíiram um apaixonante objeto de estudo, mas nada mais. No terreno ideológico todos eles compartilharam, sem submeter a uma discussão aprofundada, o ideal nacional de uma língua comum […] (PELLICER, 1993, p. 36-7).

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imigração, de línguas de sinais ou de variedades discriminadas do português. Prova disso é que a Constituição de 1988 reconhece aos índios o direito às suas línguas, pelo menos no aparato escolar, em dois artigos (210 e 231), fato que foi regulamentado pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, também em dois artigos (78 e 79). Esse é um fato muito novo na história das legislações brasileiras, tão ciosas em “integrar o índio”, isto é, fazer com que ele deixasse de ser o que era, para se transformar em outra coisa: mão-de-obra nas grandes propriedades ou nas periferias das grandes cidades. Diga-se de passagem que esse direitos foram ancorados na Constituição por ativa participação do movimento indígena no processo da constituinte.

Conceber uma identidade entre a ‘língua portuguesa’ e a ‘nação brasileira’ sempre foi uma forma de excluir importantes grupos étnicos e lingüísticos da nacionalidade; ou de querer reduzir estes grupos, no mais das vezes à força, ao formato ‘luso-brasileiro’. Muito mais interessante seria redefinir o conceito de nacionalidade, tornando-o plural e aberto à diversidade: seria mais democrático e culturalmente mais enriquecedor, menos violento e discricionário, e permitiria que conseguíssemos nos relacionar de uma forma mais honesta com a nossa própria história: nem tentando camuflar e maquilar o passado, escondendo os horrores das guerras, dos massacres e da escravidão que nos constituíram, nem vendo a história apenas como uma seqüência de denúncias a serem feitas.

Darcy Loss Luzzato, por exemplo, é um autor que tem se dedicado a escrever na sua língua materna, o talian (ou vêneto rio-grandense) – amplamente falado nas regiões coloniais italianas do Rio Grande do Sul e, em menor escala, de Santa Catarina – e a lutar pela sua manutenção, num quadro jurídico que não dá às línguas de imigração nem os mesmos e poucos e parcos direitos que se reconhecem aos índios. Ele narra, neste trecho, um sonho que teve, e com o qual manifesta-se a favor do plurilingüismo brasileiro:

Che bel insònio che go buo l’altra sera. Me go insonià che in tuto el Sud del Brasile tuti parléino almanco due léngue: fra de noantri, ogni uno el parleva talian e portoghese; i dissendenti dei tedeschi i se feva intender tanto in tedesco come in brasilian; i polachi i parleva tanto in polaco come in portoghese; i giaponesi i dopereva co la medésima fassilità el brasilian e el giaponese; vissin a le frontiere col Uruguay e la Argentina, tanto se sentiva che i parleva in brasilian come in spagnolo. E ghen’era de quei che i era franchi in tre o quatro léngue! Quando me son desmissià ala matina, pensàndoghe sora, me go incorto che sto bel insònio el podaria esser stato vero: bastaria che gavéssimo buo Governi invesse de governi. Bastaria che invesse de polìtico-buròcrati gavéssimo buo la fortuna de esser governadi par òmini de vision, stadisti, e nò gente de vista curta e storta. Ma, noantri, podemo cambiar la stòria. Me nono, el diseva che tuto l’è scominsiar! Alora, scominsiemo noantri taliani, che semo stati sempre vanguardieri. Dedrio de noantri, dopo verta la strada, i vegnarà i altri. Son sicuro!12 (TONIAL, 1995, capa).

________________________________________
12 “Que belo sonho tive noutra noite. Sonhei que em todo o sul do Brasil todos falávamos pelo menos duas línguas: entre nós, falava-se talian e português; os descendentes de alemães se faziam entender tanto em alemão como em brasileiro; os poloneses falavam tanto em polonês quanto em português; os japoneses operavam com a mesmíssima facilidade o brasileiro e o japonês; perto da fronteira com o Uruguai e a Argentina, tanto se escutava que se se falava em brasileiro como em espanhol. E havia quem fosse fluente em três ou quatro línguas! Quando me acordei pela manhã, pensando nisso, me dei conta que este belo sonho poderia ter sido verdadeiro: bastaria que tivéssemos tido Governos ao invés de governos. Bastaria que invés de políticos burocratas tivéssemos tido a fortuna de ser governados por homens de visão, estadistas, e não gente de vista curta e torta. Mas nós podemos mudar a história. Meu avô me dizia que tudo é começar! Então comecemos nós talianos, que fomos sempre vanguardistas. Depois de nós, uma vez aberta a estrada, virão os outros. Tenho certeza! Continue reading

En Quack, wo tächlich quack-quagge tut …

Olá gente, aqui temos algo interessante …
são os sons que fazem os animais, em alemão. Mas entenda que dialetos muitas vezes têm as suas particularidades, tendo seu próprio vocabulário nesta área, quer dizer são termos específicos que nem sempre “batem” ou conferem com o alemão moderno altamente padronizado: https://de.wikipedia.org/wiki/Tierlautbezeichnungen
Uma maneira de você resgatar uma palavra dialetal específica, vamos dizer, neste caso, como o som emitido por algum tipo de animal … é você pegar o termo do Hochdeitsch, inserindo-o na central de dicionários http://woerterbuchnetz.de/ – que irá lhe mostrar em quais dicionários aparece o tal termo que você está pesquisando, sendo que o dicionário PfWB ou Pfälzisches Wörterbuch (no português seria o dicionário do dialeto palatino) é o que mais se aproxima ao variante sul-riograndense do grupo dialetal Rheinfränkisch (ou em linguística Westmitteldeutsch [que em português fica “alemão médio-ocidental”]: https://www.facebook.com/pages/West-Central-German/518001028235148?nr=112085138807614 ). Importante: Note que nos resultados de procura, os substantivos sempre aparecem em maiúscula (digamos “Quack”), e verbos (“quack) em minúscula. O interessante desse dicionário é que ele frequentemente cita por exemplo quando um certo termo aparece regristrado pela primeira vez, chegando a citar livros publicados centenas de anos atrás; ele também é muito meticuloso em apontar variantes registradas por localidade, por menor que ela seja … Na verdade, é incrível com as expressões dialetais apresentadas no PfWB para contextualizar tais termos se assemelha ao nosso falar regional. Portanto sou da opinião que todo mundo que fala o Riograndenser Hunsrückisch devia aprender a utilizar esse livro (inicialmente ele intimida por causa das muita siglas e códigos, mas uma vez que a pessoa entender a tirar dele o que precisa, ele se torna um verdadeiro tesouro indispensável. Com não temos um dicionário abrangente de nossa língua, por enquanto, esta é a nossa melhor opção.

-Paul Beppler / Riograndenser Hunsrückisch Community Admin.
28. Juli, 2014
Seattle, WA – USA.

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Die Palz und unser Riograndenser Hunsrückisch-Sproch

Die Palz

O nome da região geográfica, cultural e dialetal do Sudoeste da Alemanha chamada de “o Palatinado” em português, tem sua origem no latim; muito embora o nome alemão dessa região, “die Pfalz”, pareça bem diferente do latim, ele sim tem sua origem na língua dos antigos romanos.

Lembrando ainda que no dialeto do Palatinado a combinação de letras “pf” não é autóctone (nativa) quando existe, e ela existe, isso é resultado de uma importação, de um claro empréstimo linguístico.

Mas como ficam no dialeto as palavras do alemão-padrão contendo “pf”? Depende … a ameixa = die Pflaume fica die Flaum; o caminho = der Pfad fica der Pad; e o Palatinado = die Pfalz fica die Palz – consequentemente o dialeto/a língua chamado/a palatino, das Pfälzische no alemão-padrão, no próprio falar regional se diz das Pälzisch.

A região do Palatinado fica pegada fisicamente e linguístico-culturalmente ao Hunsrück, e portanto, e isto não deveria causar nenhuma surpresa, as raízes do nosso Riograndenser Hunsrückisch estão profundamente alí encravadas.

Paul Beppler
Riograndenser Hunsrückisch Facebook Community Admin.
7. Juni, 2014
Seattle, WA – USA.

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Der ‘Quarto Distrito’ von Porto Alegre, domols…

“Früher in dem ‘Quarto Distrito’ [Stadtbezirk] von Porto Alegre [Hauptstadt von dem Bundestoot Rio Grande do Sul], do harre die Wohnunge, von der verbessertschte bis an der ärmeschte Heime, viel Platz in ehrer Hinnerhof, hinnich dem Haus. In der heisse Sommertooche [Hundstooche], do woore se immer: die Froohleit wo sich in der Schatte uff dem Bodem gestetzt honn, wo se süss Mate-Tee getrunk honn, mit ehrer Kinner uff ehrem Schoss, Leis am verquetsche und am raus pligge. Das Wasser in denne Brunne, das woard ken Trinkwasser; awer, wie das Wasser für anner Dings könnt benutzt sind, do hot jede enem in seinem Hinnerhof en Brunne gegroobt. Ganz Hinner in dem Hof, do woor dann die Latrine [das Plumpsklo], ooch die “Casinha” [das Häischje] orrer “die Patent” genennt, wo die agressive Mücke üwich der Kloake umherum gefloh honn. Newwich dem Haus, der Backofe. En Backofe im Hoff, das woard dann das notwennichschte wo mer in dene Zeite musst honn, ijo naterlich, weil domols hots ken Bäckerei in der Gechend geb. Brot, Kuche und Roske woore in denne Backofe gebackt [die Roske, das woore von em ganz feinem stärrekhältichem Maniokmehl gemacht]. Domols sind trächtiche dicke Katze öfterschs im Backofe ren geschlupt, für dort dren ehrer Brute gebäre, weil das woard jo immer wärmer im Backofe.”
Guido Mondin/Burgo sem água: reminiscências do 4º Distrito
Tradução em Riograndenser Hunsrückisch por Paul Beppler

“Os quintais do 4º Distrito de outrora eram espaçosos em cada moradia, mesmo remediada ou pobre. Nas tardes caniculares, lá iam à sombra as mulheres, sentadas no chão, tomando mate doce, com as crianças no regaço, catando piolhos. A água do poço não era potável, mas, servindo a outros usos, todos o abriam nos seus quintais. Lá nos fundos, a latrina, também chamada de casinha ou patente, com o moscaredo agressivo rondando a cloaca. Rente à casa, o forno. O forno no quintal era uma exigência dos costumes e do fato de não existirem padarias por perto. Pão, cuca e roscas de polvilho assavam-se em casa. Era comum as gatas irem parir seus filhotes no interior tépido dos fornos.”
Guido Mondin/Burgo sem água: reminiscências do 4º Distrito

Paul Beppler
7. Juni, 2014
Seattle, WA – USA.

[This is a language sample of an endangered minority language of Brazil according to Ethnologue. International lang. Code: ISO 639 HRX. This is a translation from a text in the main contact language: Brazilian Portuguese from the state of Rio Grande do Sul, a unique/distinct Brazilian linguistic variant.]

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Habenaria Radiata

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Modder-Eard
(uff Riograndenser Hunsrückisch)

Was ist das, wo ich do uff dem Bild siehn?
Ist es en Impression, nuar en Illusion?
Wo genau tut die Wohet leihe?
Was ist eichentlich Echt?
Ach Guck mo do,
en weiss Spätzche!
Schau, seine Flittcher,
weit und breit uffgemacht.
Sicherlich für weech se fliehe,
vielleicht für immer ond immermeh …
Na, wie die Natuar spiele tut.
Awer spielt Sie ooch mit uns?!
Könnt Die spiele ohne uns?!
Oh weh, oh weh, oh weh, Klenwowo Lehnchje,
so passiert das uns enfach in der Welt.
Ganz am End, weard alles enfach weiter gehn,
wie immer schon, wie immer, net woahr?!
Gell Mama, das ist enfach so,
und wie mein Ur-Grossvater Maier immer gesooht hot:
Ijo, gell net?!

Paul Beppler
6. Juni, 2014
Seattle, WA – USA.

Screen Shot 2014-01-29 at 12.07.28 AM