Entre linguistas experts, todo mundo concorda que o nosso dialeto alemão riograndense tem maiores chances de sobreviver se a gente passar a escrever nele. Com algum esforço, é possível qualquer pessoa que fala o dialeto, poder começar a escrever em sua língua regional. É sobretudo uma questão de hábito depender da língua nacional para qualquer coisa em forma escrita. Uma das maneiras mais imediatas de escrever o dialeto é utilizar a escrita do português para tal. Por exemplo, para grafar a frase “Que bonito!” a pessoa escreve “Ví chên”, “Víe xên”, “Víe schen”, etc. Uma super DICA para ajudar a pôr o dialeto falado em escrita é pensar nos sobrenomes de origem alemã que contém o som que você quer grafar. Por exemplo, você quer escrever “cortar” (mas cortar com uma tesoura…); bom, o som inicial é o mesmo na palavra portuguesa “xerife”, e também na palavra “cheio”, então pode escrever “cortar com tesoura” como “xêren” ou “chêren” – MAS, se você pensar bem, você já sabe escrever estes sons em alemão pois eles estão contidos nos seguintes sobrenomes que praticamente todo mundo do sul do país conhece: Scheeren, Scherer, Schaf, Schardong, etc.; portanto, para escrever a palavra dialetal para “cortar com tesoura” você escreve “scheren” – Viu como fica melhor do que grafar isto “xêren” ou “Chêren”? Ainda, o sistema de grafia do idioma português não ajuda na hora de se grafar muitos sons que não existem na nossa língua nacional; por exemplo, quando a gente diz “eu” no alemão, isso é grafado: “Ich”, esse som depois da vogal “i” não existe na língua nacional, e por isto você precisa aprender que ele é representado na escrita pela combinação de letras “ch”; e por isso quando você quiser escrever “perto” em dialeto, você escreve: “dicht”.
Note que com um pouco de persistência você irá aprender com desenvoltura e fluidez como se escreve, grafa, ou registra por escrito a maioria dos sons da língua. Uma vez superada esta fase inicial, você pode começar a escrever o que quiser no dialeto, e seus textos serão compreendidos … não importando detalhes, por exemplo, vamos dizer, se a palavra “bonito” deve convencionalmente ser escrita “schön” e você a grafa como “schen” (isso seria, comparavelmente, como escrever o português sem pôr acentos gráficos nas palavras).
Uma coisa é certa, o nosso dialeto alemão riograndense está bem a caminho da extinção perpétua … portanto, nestas alturas do campeonato, assim por dizer, qualquer forma escrita da língua é melhor do que deixar ela só na fala … quando sabemos que em MUITAS comunidades os adultos fluentes no dialeto simplesmente não falam mais a língua pois sempre há alguém por perto, seja netos, ou amigos, etc. que não entendem nada da língua alemã. E por isto as pessoas fluentes no dialeto simplesmente não estão mais utilizando ele, e quanto mais passa o tempo, mais a gente se afasta de trazer ele de volta, a criar um ambiente ativamente bilíngue …
Para tal, além de começar a escrever na língua, precisamos criar espaços e momentos de confraternização onde a prioridade é que se fale somente em dialeto; Mas lembre-se que além de procurar beneficiar aquelas pessoas que sempre entenderam a língua mas nunca chegaram a falar nela, além de ajudar estas pessoas a começarem a usar a língua tanto oralmente como na escrita … é super importante trazer crianças para estes espaços e momentos de confraternização onde se privilegia a nossa língua minoritária. Muitas pessoas fluentes no dialeto precisam ser convencidas primeiro a voltar a falar na língua – faz parte da natureza humana simplesmente dizer que não lembra mais a língua e ponto final, e seguir o caminho mais fácil, e continuar falando só em português. As pessoas precisam compreender que isso tudo volta bem rapidinho, com um pouco de persistência. Se você simplesmente não falar mais em português com estas pessoas, mesmo que seu alemão seja mínimo, elas perceberão que você está determinado/a e passarão a ajudar você mais e mais …
Para começar a escrever no dialeto, seja mensagens no Facebook, um bilhete deixado na mesa para a sua mãe, uma carta a uma velha amiga, o que seja, uma das coisas principais e mais básicas é aprender o alfabeto. Com um mínimo de esforço a gente consegue aprender o nome das letras do alfabeto em alemão – elas são quase todas iguais ou bem parecidas ao português, com algumas exceções. Para fazer isto, entre nestes vídeos do Youtube: Das deutsche Alphebet (note que o alfabeto “cantado” é mais fácil de lembrar, por isso foi gravado assim no vídeo).
Ainda utilizando o exemplo acima, você logo irá notar que o som de “v” do português é gravado com um “w”, e portanto “que” = “Wie” e “Que bonito! = “Wie schön!” No caso do “ö” – do “o” tremado, ou com Umlaut como se diz no alemão, você irá aprender logo logo com isso funciona no alemão. Vou explicar isto pra você de um jeito informal, bem simples: Só pra você ter uma idéia, em português a gente diz/escreve: roda –> rodei; já no alemão qualquer termo derivado da raíz “roda” = “Rad*”, por exemplo, rodas fica “Räder” … quer dizer, a letra a ganha trema/sinal de Umlaut – é como se a gente tivesse que escrever roda, rodäi em vez de como fazemos: roda, rodei.
*Note também, como aqui neste caso, que substantivos (ou seja coisas, lugares, e pessoas) ficam sempre em maiúscula na escrita alemã; o motivo dessa prática é simples mas mui importante: as frases na língua alemã são armadas de um jeito que pode confundir o leitor ou a leitora, ou demorar um pouco pra ele o ela entender o que está escrito – ao pôr substantivos em maiúscula isso ajuda na leitura, visualmente, facilitando que o sentido da frase seja compreendido com maior rapidez.
muito = oorich orrer* aarich = “artig” uff Hochdeitsch
Forma de uso:
Das ist awer doch oortich teier!
Das ist aber doch artig teuer! (note que embora isto aqui seja o equivalente ao pé da letra no Hochdeitsch, isto não quer dizer que pessoas falando no alemão padrão e ou falando ele meio casado com outro dialeto, diriam isto deste jeito, igual a nós – provalmente diriam: Das ist aber sehr teuer!
*”oder” = “ou” é um termo que na prática, muitos de nós pronunciamos “or-a”, o que eu prefiro grafar: “or-rer”, lembre-se que “rer” tem o som de “a”, como nos sobrenomes Beppler e Becker, quando estes são pronunciados no alemão regional (“pêp-pla” e “pê-ka”).
Lembre-se que muitas vezes não encontramos palavras em dicionário de alemão pois pra começar nós imaginamos a palavras escritas conforme nosso sotaque, por exemplo, a palavra Becker as pessoas iriam no dicionário de Hochdeitsch procurar Pecka, Pegga, ou Pecker … sem que jamais chegassem à Becker = um sobrenome e também
o nome da profissão de assador de pão.
Quando comecei a ler e escrever em alemão, por exemplo, eu não encontrava a palavra “egglich” = “feio” no dicionário de Hochdeitsch – sim porque no alemão padrão o equivalente e egglich não significa feio mas sim mais especificamente nojeto, asqueroso e repugnante; até que eventualmente me dei conta isto e ví que o nosso egglich = ekelig, na verdade é bem mais comum diconários de alemão encotrar-se registrada a forma mais comum desta palavra, que é eklig.
Para resolver este tipo de problema sugiro pegar o significado da palavra dialetal em português e uma vez encontrado seu equivalente em hochdeitsch, procure esta palavra do Hochdeitsch aqui nesta central de dicionários aqui para ver como ela é utilizada regionalmente e como ela foi utilizada historicamente:
www.wörterbuchnetz.de
Os dicionários nesta central de dicionários que mais contém termos parecidos, que se aproximam mais do nosso jeito de falar são, em primeiro lugar, é o dicionário do dialeto da região do Palatinado ou die Pfalz, o dialeto Pfälzisch, abreviado no Wörterbuchnetz.de como PfWB (Mas lembre-se de que “pf” não é um som “nativo” ao nosso dialeto, e portanto não é incomum as pessoas pronunciarem tipo, Ferd em vez de Pferd para cavalo, ou Pälzisch para Pfälzisch.); outro dicionário mui útil pra nós é o de Rheinisch (abreviado RhWB); e mais outro similar é o NRhWB.
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