Para o resgate e proteção da nossa língua materna:
É preciso que seja iniciado um projeto a nível estadual (possivelmente coordenado com outros estados) para sistematicamente colocar placas-de-rua oficiais bilíngues nas zonas históricas da língua alemã no Rio Grande do Sul. Devolver a língua à visibilidade, à vida pública especial e especificamente pelo governo é tanto justo como urgente – inquestionavelmente é preciso reverter este triste quadro de termos uma língua regional prestes a completar duzentos anos de existência, porém classificada pelos mais importantes e sérios órgãos internacionais de monitoramento de idiomas em perigo de extinção como uma língua marcada para morrer.
Linguicídio vai contra muitos dos tratados internacionais firmados pelo Brasil. Mas esse tipo de coisa não se leva a sério em nosso país – quando algum grupo minoritário se auto-identifica, se levanta para exigir direitos, a primeira coisa que passa na cabeça da maioria das pessoas é desqualificar, desfazer, desconstruir a identidade do outro. O Estado reprimiu, passou da hora dele se redimir.
No sul do Brasil se encontra a única população do mundo que tem a língua alemã como língua materna, a qual é, como um todo, em sua maioria, analfabeta em sua própria língua de berço – resultado direto das políticas linguísticas desumanizadoras de nosso Estado; e pessoas falantes dessa língua frequentemente são tratadas como “burras” por isso; e infelizmente, com o tempo, conforme pode ser facilmente constatado, passaram a acreditar elas mesmas nas postulações firmemente fundamentadas em preconceito e ignorância … tipo que sua língua é errada, vulgar, ignorante, que nem mais alemão é, que nem se qualifica como língua, é uma mistureba, nem patuá é, quer dizer, seus falantes só emitem sons de barr-barr-barr entre sí, feito bichos … Ora, não é de surpreender que tais vítimas passassem a exibir um profundo desdém para com aquelas coisas que as identificam, como por exemplo a língua da sua Mama.
As políticas públicas do Estado brasileiro sim foram desumanas, visando o explícito extermínio de um falar ancestral que faz parte integral dos processos colonizadores do Império do Brasil. Depois da repressão Estatal de Vargas com a Campanha de Nacionalização, tendo arbitrariamente designado culpa coletiva sobre todo um segmento de sua própria população, por anos ficou proibido se alfabetizar milhões de crianças em sua língua materna. A doutrina do monolinguísmo é absurdamente totalitária.
Fico estarrecido como se montam conferências em nosso estado, em universidades ainda, pra discutir, por exemplo como minorias estão utilizando mídias sociais para obterem suas reivindicações históricas … mas de línguas minoritárias do estado, nem um palestrante (em termos de Riograndenser Hunsrückisch penso imediatamente no nome do prof. Dr. Cléo Altenhofen, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul / UFGRS); obviamente não faltam experts do mundo acadêmico, pessoas altamente qualificadas para tratar deste assunto … quer dizer, infelizmente nem dando um toque as pessoas se tocam.
Celebra-se anualmente no mundo inteiro o Dia da Língua Materna, numa tentativa de alertar as pessoas que, assim como a fauna e a flora, em cem anos noventa porcento das línguas menores terão desaparecido pra sempre – enquanto isso talvez até um quarto da população gaúcha fala o dialeto alemão-riograndense com algum grau de fluência, uma língua brasileira sui generis, por vezes perseguida violentamente, outras vezes propositalmente, calculadamente ignorada … ora, numa data dessas o estado inteiro devia celebrar com grandes festejos e programações, produções SOBRE e NAS muitas línguas regionais e minorizadas de nosso estado.
A língua alemã é a segunda língua mais falada do/no Brasil, depois de nossa língua nacional … mas a vasta maioria dos/as brasileiros/as nem sabe disso – em muitos casos nem quer saber. Francamente, é preciso atuar almejando um nível bem mais elevado de relevância do tem sido demonstrado na esfera do bilinguísmo em nosso estado até hoje.
O estado do Rio Grande do Sul devia ter uma Secretaria de Línguas Minoritárias.
Paul Beppler
Riograndenser Hunsrückisch
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22. Oktober 2014
Seattle, WA – USA.